segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

"O que era seguro era estar-se numa época de crise e ir sair de todo aquele século um mundo novo [...]"



"O que era seguro era estar-se numa época de crise e ir sair de todo aquele século um mundo novo, se a sua construção estivesse dentro das possibilidades humanas; os grandes edifícios sociais e políticos, os grandes princípios religiosos, as próprias normas literárias e artísticas manifestavam à mais ligeira observação os sinais do abalo profundo que não deixava de agitá-los; o homem do futuro já não cabia nas armaduras que vinham dos avós e ao esforço brutal que fazia por conquistar a liberdade abolavam-se as lâminas e estouravam os fechos; as próprias reacções eram sinais de derrocada; os fracos lamentavam-se e desejariam ter vivido em anos mais tranquilos, sem nenhum grave problema a resolver, com as escalas hierárquicas perfeitamente dispostas e a existência decorrendo como um fio monótono de fonte; Zola, porém, considerava como o mais belo dom dos deuses terem-no lançado para o fragor das torrentes, terem-lhe concedido ajudar as gotas companheiras na faina de abrir caminho, entre espumas e tumultos, para o verde sossego dos plainos"
– Agostinho da Silva, Vida de Zola [1942], in Biografias I, pp.127-128.

1 comentário:

Paulo Borges disse...

Um texto particularmente actual.