quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Ondas

D. S. Merezhkovskii
Retrato de I. Repin (1900)
Oh! Se eu fosse como vós, ó ondas,
Livres e desapaixonadas,
Frias e cheias de eterno resplendor!
Não sois vós mais felizes do que eu?

Que a felicidade é efémera, vós não sabeis...
Com saudade, vejo o belo livre e frio que há em vós:
Em toda a minha vida de amor e dever,
Carrego humildemente os grilhões dos Santos.

Porquê a jovialidade e felicidade do vosso sorriso?
Porquê os grilhões fardos carregados por mim?
Oh!, preciso da vossa frieza imperturbável,
Do vosso sorriso livre, da vossa beleza eterna.

Como é difícil suportar o jugo da humildade!,
Ir para vós e em vós descansar
Só, simplesmente só e viver o instante,
Para depois, sem respirar, adormecer para sempre!

Oh, não me importar mais
Com mulher, Deus, Pátria
Viver a alegria, a vida,
E morrer nos salpicos de espuma resplandecente!...

Todavia não sinto desapego:
Amo a Pátria, amo Deus,
Amo o meu amor e em nome da felicidade
A amargura humildemente aguento.

Temo o dever, inquieta-me o amor,
Para viver livremente sou fraco demais...
Oh, será que a liberdade é impossível,
e o homem é escravo até morrer?

Dmitrii Merezhkovskii (1866-1941)

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