domingo, 25 de julho de 2010

Revólver (poema de Sylvia Beirute)


























REVÓLVER

                                  {ao josé ferreira}

por fim: entre desejos lindos, estrita-
-mente prováveis, e contra-impulsos no
dorso, dia sim dia não, como que
numa mistura clássica e fascinante,
substituo o corpo na competência
de parir o tempo que resta
no rebentar das águas de um
instante principal em forma de
edema e américas;
e entre desejar e não desejar, o vazio
de cordas deseja e consegue: a certeza
de não cabermos numa
única possibilidade, o saber que há
um inverno de grande razão
na carne fria do nosso cesariny,
o ter o coração em riste no diadema
solitário sob os olhos dos mi-
-nutos emperrados em direcção a meca,
o supor que a morte já
não admite exemplos
e um excesso de memória
adivinha o futuro.

Sylvia Beirute
inédito

1 comentário:

Paulo Borges disse...

Muito bom! Quer enviar dois ou três poemas, até dia 29, para o nº2 da ENTRE?