sexta-feira, 23 de abril de 2010

PENSAR ABRIL III

Volvidos trinta e seis anos,
Já não somos os mesmos!
Somos quaisquer outros!

Peregrinamos
Pelos espaços vazios do Mundo,
Avistando-nos com outro rosto.

O rosto da política
Da integração europeia
E da vã inclusão comunitária;
O rosto
Da moeda única,
Da adaptação
Ou da massificação ideológica;

O rosto
Da desagregação
Cultural e apátrida,
Sem identidade;

O rosto,
Cuja voz,
Já não sabe mais cantar
O hino nacional;


O rosto,
Cujos traços e cores,
Já não são mais
Os da nossa bandeira!

Volvidos trinta e seis anos,
Já não somos os mesmos!

O que somos, então?

Um povo errante,
Ainda e sempre,
No resto da cauda da Mundo,
Que outrora conquistámos,
No preciso momento
Em que o perdemos?

Erguemos o Convento de Mafra,
Com o ouro vindo do Brasil.
Edificámos a Torre de Belém
E o Monumento das Descobertas,
À custa de longas e saudosas lágrimas
Dos que sempre partiram,
Dos que nunca chegaram!

Qual Velho do Restelo
Se ousa,
Ainda,
Erguer?

Qual Adamastor
Povoa,
Ainda,
Os nossos mares?

Quais ondas alterosas
Se aprumam,
Nesse mar imenso,
Por onde não velejamos jamais?

Isabel Rosete

1 comentário:

rmf disse...

Lindo 'Pensar Abril'.

Se, muitas das vezes, ousar expressar uma opinião levou a que se incorresse rapidamente no vazio do incompreendido, outras, como um simples abraço, na expressão de um simples agradecimento, levou ao que demais verdadeiro se encara por belo. Retrato e espelho aqueles que nunca conheceram um Portugal senão livre... (ou lá o que com isso se pretenda fazer compreender). Essa Liberdade, o espaço da consciência ou Absoluto que, como um número extenso, presenteia o inequívoco pretérito em que se tolda o futuro, conduzindo o pensamento para aquilo que chamamos de Luz, que orienta e ilumina, ou, por outras palavras, onde se imbricam as infra-estruturas de um corpo onde de todo se concebem memórias. Mas, vislumbrado o caos, continua a não haver ponto sem nó, nem matéria sem anti-matéria. A súmula extensa de toda a ideia está contida no ramo do esquecimento que não se inclui na memória, isto é, na memória como concepção de Absoluto, íntima aliada do esquecimento que, quando isolada, nada mais é que uma pontuação de caminho pelo qual se entalha uma vereda, uma ruga pela qual se percorre o tronco, uma facilitação.

Cara Isabel, há alguma possibilidade de ler (conhecer) os anteriores "Pensar Abril"?

Deixo o meu contacto inpactu(at)gmail.com

Muito obrigado.
Um Abraço em Liberdade.